sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Até breve





Apenas vós me vistes por dentro

Me ouvistes nos abafos e desabafos

 Com o direito que vos confere a ser parte de mim

Apenas vós fizestes eco na minha alma

 Saciando-me com o pão partilhado

 Mergulhando-me na ebriedade do vinho 

 Levo-vos comigo, rumo ao templo


Até Breve


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Não sei o meu nome

 

Gravei os meus nomes em jazigos
Sepultados nas falésias das vidas
Mas não sei quem sou
Para além dos nomes
 
Alguém me chamou um nome
Nas metamorfoses de vidas encarnadas
E nos papeis desconformes vividos
Mas,
 Não sei o meu nome
 
Talvez me reencontre no Universo
E alguém grite a vibração das letras
Um qualquer nome no vácuo
 
Mas, ninguém sabe quem sou
 
Ninguém sabe o meu nome

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Por ora basta-me o mar




Por ora basta-me o mar

E eu sinto-me ser

o ser de pólen

no leito das rosas


 Se existo na luz do ocaso

 É porque visto o sossego

E fico neste exílio do mundo


Ainda assim

Resta de mim o poema


 Mas,

por ora


 basta-me o mar

sábado, 9 de novembro de 2013

Luz


 


Que sei eu de ti mãe,
Que voaste tão cedo esvoaçando no tempo
Entrando na melodia da luz,
E eu no vazio das lágrimas

Que sei eu de ti,
Quando um dia adormeceste nesse azul
E devolvi ao mar as lágrimas de sal
Deixando o que o meu coração te lembra

Hoje vi a ave azul
Que  devolveu-te do tempo

Gritei o teu nome nas folhas brancas do vento
E a lua cantou a melodia da luz


domingo, 20 de outubro de 2013

Silêncio



Eu não escrevo o amor
Sinto-o no vento cálido do oceano
Quando a noite desce a encosta em busca do silêncio
E nesse estar só, sem os ruídos do mundo
Canto a música do universo

Ganho essa liberdade de libertar-me
Quando a humanidade dorme esse sono universal
e eu desperto na primeira maré


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A NEBLINA






Talvez se enfrentar o medo do desconhecido,
 consiga atravessar a neblina
 aquela que me separa da felicidade
 e me mostra essa embriaguez que me turva a visão.

Daqui,
 de onde estou,
 não tenho certeza de nada
porque os meus olhos não vêem para além da bruma

E caminho nessa distância entre o medo e eu.


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ausência







Acreditei na saudade dorida como se fosse minha
E um orvalho de lágrimas encharca essa ausência
Quando a tua presença esvoaça em torno do sol
E a brisa morna arrasta o teu cheiro

Esfumando o teu tempo perdi o teu rasto
Para além desse mar  feito de mar.


domingo, 8 de setembro de 2013

Desfilam pessoas






Desfilam pessoas pelas minhas ruas
Ainda que a cegueira da mente oculte a luz
Têm todas um pedaço de mim

Desdenho a humanidade nesse sonho ignóbil
E vivo a pior das ilusões no quotidiano dos dias:
A solidão que me deixa sempre onde estou

Desfilam pessoas com pedaços de mim

Na luta embriagada em busca de mim


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A ti pai, que farias anos hoje.






Pai, o tempo nos aproxima
No sonho que me falas sem voz,
E não falarei das palavras sem som
Sentirei apenas a tua luz na noite

E esse acetinado crepúsculo onde te vejo sorrir
Vindo de um eterno tempo que um dia nos unirá
Mistura-te na memória de uma vida
Onde agora a luz te molda a sombra

E semeio rosas no caminho que te leva
Onde aguardo o retorno das aves que te cantam.

Amo-te

(Reedição)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A noite escura da alma







Na noite escura, não reconheci o caminho.

Fechei-me para o fluxo do amor e caminhei na berma do lago, acompanhada da sombra nas águas iluminadas pelas estrelas.

Reconheci a vulnerabilidade do meu nome e procurei a ferida na minha essência, porque estava livre nesta prisão.

Talvez se criar uma ponte que me leve à melodia longínqua da próxima primavera, eu consiga encontrar-me em ti.


E acenda uma luz na noite da alma.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Falei com as flores

 





Disseram-me as flores

Que eu era infeliz por engano

Porque é minha a última luz do sol.


E eu, usei o perfume das rosas. 


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Turismo da Madeira e animais abandonados

Uma vez que não consigo ser insensível a nenhum ser vivo mal tratado, seja animal ou humano, mais uma vez, saí do supermercado do Lido Sol (perto da praia) com uma lata de comida para uma cadelinha que se encontrava ali abandonada, com vestígios de subnutrição.
Entretanto, um casal de estrangeiros veio ao meu encontro, nitidamente impressionado com o meu gesto, dizendo que estavam chocados com o número de animais abandonados e mal tratados espalhados pela ilha.
Perguntaram-me se era italiana, pelos vistos não queriam acreditar que uma madeirense estivesse a ajudar um cão abandonado. Censuraram a atitude dos madeirenses em geral, sem conseguirem perceber como ainda é possível este tipo de comportamento, num país inserido na desenvolvida Europa.
A única coisa que consegui dizer-lhes foi, que a evolução mais difícil de fazer é a da consciência e nesse aspecto, estamos ainda num estado muito primitivo. Evoluímos só nas aparências e é para isso que vivemos. Alguém que não respeita (já nem falo em amar) os outros seres vivos, está a anos-luz de uma consciência minimamente evoluída, seja na Europa ou fora dela.
Este casal afirmou deixar por escrito, na Secretaria do Turismo, o seu descontentamento em relação à forma como os madeirenses tratavam os seus animais e garantiram-me que cá não voltavam.
Infelizmente esta é a imagem que passamos aos nossos turistas.

 E eu, só me apeteceu passar por italiana. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Quem és






És tu, vestido de vento e perfumado de mar

Quem faz cair a noite e me perde no destino

Ensinando-me a beleza da solidão


És tu quem pinta o céu de luar

E me oferece o leito onde adormeço

Mergulhada em ti onde nasço


Pudesse eu despir a saudade 


Galgar esse mar

Deixar o perfume da flor que morreu

Na Semente sem chão para nascer


Pudesse eu saber quem és

E amar para não sofrer

Ou sofrer para não amar

domingo, 14 de julho de 2013

Voei







Sonhava que era a alma da ave azul,

Aquela com quem eu falava quando me faltavam as palavras para o mundo.


Mil vezes falei de mim,


Sem saber que sonhava.



E a poeira do tempo desvanecia o meu acordar 

e eu teimava dormir.


Perdi o medo e a pressa,

Perdi a morte e a vida


E voei para além do azul.


Com a alma daquela que me ouvia nas tempestades.

A alma da ave azul. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Horizonte





Caminho nessa estrada sem identidade nem pátria, vestida de vento e perfume de mar, rumo a um horizonte trazido pela nostalgia de um ocaso.

Os meus olhos de sol sorriem diante do sabor da tristeza.  Porque com a tristeza encontro a  alegria e deixo levar-me na melodia do vento, rumo à liberdade do horizonte sem morada, onde entrego as palavras aos deuses.



sábado, 22 de junho de 2013

Um olhar







 
Olhei de volta para mim
Seriam as lágrimas de sal da criança que vi
Que me transportou de volta à humanidade dos homens
Deixando-me a lucidez da magia

Talvez se mandar embora o medo de olhar
E deixar a criança brincar de mulher
Eu consiga colher as estrelas e amar

sábado, 8 de junho de 2013

O som do silêncio







Lembro-me dos segredos do silêncio

Quando me aquietava no lusco-fusco do dia


E fugia dos ruídos do mundo

Ouvindo o som da brisa do mar



Era inteira na minha sede humana

Quando saía do profano e desvanecia o grito

Vindo de um rebuscado lugar do mundo

Quando a noite descia da montanha clamando



Lembro-me da doce paz desse som

Que me levava a calar a mente

E a sentir a inocência da melodia da flauta



Era o som da alma

Nos segredos do silêncio

sábado, 25 de maio de 2013

Desassossego





Será amor este desassossego
Que me leva a aceitar a solidão
Esperando um eco trazido pela vida

Entro na próxima taberna deste destino
Nesta incerta procura entre o sono e o sonho
Que me leva a querer amar-te sem saber amar

Sinto o aroma da terra na tua pele
E deixo o meu corpo ceder
Perdido nesse tempo sem tempo

Seria a hora do sol poente

E talvez te ame sem medo de amar



sábado, 11 de maio de 2013

VIAGEM






Não raras vezes paro na berma da estrada com a dúvida plantada no mapa da vida sem saber ao certo para onde ir.

Não raras vezes sinto a fadiga dessa viagem cansar-me a pele, e dou por mim de volta ao jardim com cheiro a jasmim.

Cerram-se-me os olhos cansados, e, na esteira da vida espero acalentar o sono, trazendo na noite tudo o que de belo amei.



domingo, 5 de maio de 2013

Homenagem a ti, mãe





 
Eu podia morar nas asas dos falcões

Viver o êxtase das aves solitárias

Rumo ao inevitável caminho do céu

Onde te encontraria, mãe



Eu podia viver o sol purpura entrando na noite

E sentir o brando silêncio trazido pela brisa

No sono da morte deliciosamente misteriosa

Onde te encantaste um dia



Quem sabe ouvir os grilos entoando a melodia 

Que me cantaste num outro tempo

E pedir ao vento que te devolva

Desse secreto e constante sono



Mas, vou viver a tua morte, mãe

E conquistar a tua paz sem chorar a noite

(Reedição)




sábado, 27 de abril de 2013

A Voz






Queria eu ouvir a voz do vento

Desprender-me do tempo estático

E entregar-me ao rumor secreto

Da liberdade do deserto


Queria eu calar a mente

E entregar-me à penumbra da luz

No lusco-fusco do tempo


Talvez se ouvisse a voz das árvores...

domingo, 14 de abril de 2013

Talvez fale com Deus




 

Às vezes abraço um cão vadio e sinto Deus no seu silêncio


E a minha existência entra num mundo sem terra


A minha voz penetra-me, ressoa no vácuo


Talvez sinta a voz de Deus.

Mas, se amo os mares de algas azuis


Se amo intensamente a divindade das flores


Se ouço a linguagem dos anjos no burburinho dos homens


Então, talvez fale com Deus…


sábado, 6 de abril de 2013

Homenagem a ti, pai






Pai, o tempo nos aproxima
No sonho que me falas sem voz,
E não falarei das palavras sem som
Sentirei apenas a tua luz na noite

E esse acetinado crepúsculo onde te vejo sorrir
Vindo de um eterno tempo que um dia nos unirá
Mistura-nos na memória de uma vida
Onde agora a luz te molda a sombra

E semeio rosas no caminho que te leva
Onde aguardo o retorno das aves que te cantam.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Por vezes simplesmente morres






 
Porque morres lentamente quando o dia expira mornamente
E o teu olhar balança na neblina dessa estrada
Vendo o caminho longo que te escasseia a esperança
E sabes que te afastaste de tudo embebido em ti

Às vezes morres sem olhar o céu
E os pássaros cantam o hino da libertação, e deixas cair o corpo num impasse
Talvez as ruínas desse tempo te levem a ver a morte
E despertes desse sono induzido pela velha fada

Por vezes simplesmente morres, como se o rio secasse 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher






Mulher, 
Meretriz do destino efémero
Deusa do erotismo e da beleza

Divindade da reprodução 
Por ti os poetas choram
Por ti os artistas criam

E os filhos nascem e as flores brotam
 
Mulher, que alumias o altar dos homens.

domingo, 3 de março de 2013

Torre de marfim







Construí torres que se fizeram de marfim
Trajei-me de comediante em busca da alegria
Espalhei risos tentando sorrir
Procurei amar sem sentir o amor

Talvez os lamentos da ribeira me despertem
E os murmúrios da ilha me contem histórias
Nas entrelinhas de um poema que me asfixia

Agora ouço a respiração da noite
E sinto a misteriosa sedução do vampiro

Talvez deixe de amar 
Em torres de marfim…

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Procuram-se os anjos




Hora sagrada dos murmúrios do templo
 
Os sinos cantam o profano
 
Na primeira hora da luz do sol
 
Raiando a pátria
 
 
No altar nasce o corpo e o sangue
 
No grito do falcão, a liberdade
 
E desenham-se borboletas no céu
 
 
Vamos onde nos levam os pássaros
 
E procuram-se os anjos
 
Nos ventos que varrem a pátria
 
 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Eu



Talvez a demora da vida me leve a marcar pegadas que estão por vir

E dou por mim fugindo de mim em busca do todo que me falta

E é urgente as luas acelerarem as marés

E o meu encontro no centro da tempestade, bebendo a última gota de sal

 

Talvez a demora da vida me encontre e denuncie

E eu obedientemente espere por ela

Enquanto me perfumo de terra e mar

 

Porque nenhuma palavra fala de mim

Apenas esse cheiro a mar…

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Quem és





 



Um dia chegaste trajado de Pierrot, trazias no peito a rosa brava,
E no coração o carnaval ao som de um samba melancólico
Chegaste vestido de inocência, caminhando na praça com graça
Com uma lágrima brilhante traçando a estrada no rosto

E falaste-me dos carnavais do mundo,
Aqueles que te deixaram essa eterna lágrima
Que te fizeram vestir essa constante tristeza dentro dos trajes de lentejoulas

 Um dia vi-te partir no sambódromo, em busca de outro carnaval

Aquele que te enxugasse a lágrima

E eu, trajei-me de Columbina.