quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O gosto das amoras






Hoje recordo o gosto das amoras, quando esperava o tempo
Num tempo em que te embalava, no mistério sedutor de Afrodite

Recordo o teu mistério tentador
Quando construi a Esfinge para te guardar em mim,
Quando te preservei, num poder místico, que nem o tempo levou

Os meus olhos acostumados à penumbra
Olham-te na sedutora neblina do ocaso
Nessa tarde cálida onde adormecem os pássaros
E eu recordo o gosto das amoras

Poderá ser o teu mistério sedutor

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Natal






 

Disseste-me que estarias em cada floco de neve que caísse do céu,
Em cada raio de sol que tocasse a minha pele,
Em cada mar que beijasse a terra
Em cada animal que respirasse comigo.

Disseste-me que poderia ouvir-te na melodia dos búzios,
e na canção das gaivotas.
Que viverias em tudo o que os meus olhos tocassem.

E o meu coração aquietou-se,

 Ao ver-te em cada gota de orvalho que humedece a terra
Ao ver-te pulsar no coração de Gaia.

E o meu coração serenou
Ao ver-te nascer na aurora,

 Fez-se Natal

E a vida falou

sábado, 15 de dezembro de 2012

Amar na noite






Ambos esperavam o silêncio da lua
O desfalecer do sol e o estremecer das estrelas
E amavam-se num anonimato sedutor
Onde o riso das feiticeiras ecoava longínquo
Embalando a noite nos rituais das corujas

Ambos esperavam o cair da noite
Apenas a respiração sussurrando num murmúrio
Qual apelo sensualmente retórico  

E esperavam a mutação das sombras e o sono das flores

Embarcavam na neblina noturna
Sentindo a textura da terra e o silêncio da água
Os corpos fundidos numa só sombra
Amavam-se no misterioso sossego

E esperavam os aromas da noite
A treva estranhamente bela
  

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

E a vida passou






E a vida passou no silêncio do tempo,

no culto perfeito da ética hipócrita
E envelhecem-se as crianças
E despem-se as memórias

E a vida passou como sombra suave na praia
Passou na canção das marés
Onde se encantam as baleias
Onde se desnudam as almas

E passou transfigurada na carne
Num cavalo à solta
Em busca dos deuses

domingo, 25 de novembro de 2012

Entre Vidas






Procurei nos rostos que a vida me trouxe
Aquele que a saudade diz-me existir
Procurei tanto o teu rosto
 Que te via chegar nas neblinas mornas do ocaso
E perdia a razão embebida na saudade de vidas ancestrais

Talvez por não te conhecer nesta vida  
A chama que te criou em mim
Não me deixa morrer sem te amar

Não sei a hora, mas sei o tempo, que encontrarei o teu vulto
E a névoa findará num sopro morno de sol
Onde o balsamo da tua pele me despertará
Deste sono anónimo que me escondi
 
E o poeta chamar-te-á sol
E eu:  luz



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Foge comigo para fora do mundo




Foge comigo para esse vazio,
Para o arco-íris que nos leva
 aos confins do mar.
Foge comigo para fora do mundo
Vem sentir a beleza do nada,
Vamos  viver no vazio esculpido de sol,
 onde o ar é luz e o céu flores,
e as sombras fogem da mente

 
Vamos cinzelar o vazio,
 pintar o universo, acender as estrelas

Vem sentir o amor
Só o amor

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Resta-me pedir ao mar







Deixei a vida vestir-me de melancolia,
Extinguirem-se as flores e me perder
num jardim abstracto de sombras vadias.
Deixei ir o destino, um dia, junto ao promontório,

Resta-me pedir ao mar
O sorriso da criança, foragida na magia,
E sentir o poema que abraça a incerteza
 que soletra o inexprimível,
lançando-me na solidão pacífica

Resta-me pedir ao mar o abraço de Posídon
a memória da criança
E, se um dia o mar me ouvir

Resta-me ser feliz



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DESPRENDIMENTO






Desprendo-me da vida, largada num tempo sem tempo, onde o passado se esfumou em cenas efémeras e o futuro se tornou presente

Desprendo-me na impermanência da vida, que se fez sofrida nos últimos epílogos, E canto o último adeus a um deus que o mundo criou na metáfora.

Desprendo-me das palavras que vestem a canção na combinação do som e do silêncio, e neste desapego de emoções nuas, entoo a dança que me encaminha para o último enigma do planeta... a vida.

E a plateia sorri no fim do acto.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Diz-me onde estou, pai





Diz-me tu, o que o meu pensamento vomita,
Fecundando as emoções ainda virgens,
Vestindo um ego repleto de medo.


Diz-me, pai, o que o meu coração não quer calar
E o meu cansaço não deixa ver
Neste mundo
Que aguarda o retorno dos pássaros.


Nas entrelinhas leio a explosão da terra,
Ferida,
Onde lágrimas de seiva escorrem,
Mudando a paisagem numa gestação de ironias.


Diz-me pai, a saída da treva,


Mostra-nos
As nascentes da luz


Diz-me onde estou…pai


domingo, 14 de outubro de 2012

Noite





Nesse escuro luminoso,
 vestido de prata,
Sinto-te chegando,
confundido nas sombras dos cedros,
Dançando
 ao som da melodia longínqua
  de uma bruxa perdida.

Sinto-te tão perto,
 nessa noite mística perdida no profano,
Que até o silêncio do vampiro
 canta a balada da luz
E a dança das estrelas cria rosas no céu,
E vejo-te
Na névoa de luz que te molda o rosto

E a noite canta o hino dos búzios 


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Esse mar






Procurei-me em ti,
 esculpi-me na tua pele,
criei-me no teu olhar
E respirei o teu ar de rosas,
 num sorriso rasgado de sol
 Procurei-me tanto em ti,
 que num viver orgástico esqueci de mim,
Entregando-me num vazio de sonhos,
 que o riso das baleias me despertou,
E despertou-me esse  mar,
 na melodia das marés
Que me acolheu como sendo seu
E onde,
 num qualquer dia perfumado de sal
me encontrei

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Outono




Estás sentado na tua cadeira onde te despedes do tempo, esse tempo que o Outono leva nos ventos do norte.

Dessa cadeira onde a melancolia te balouça, os sinos te despertam para as ave-marias, onde a tua alma se recolhe num misto de remorso e paz, e rezas que o falcão te leve, numa dessas alvoradas trajadas de cristais.

As folhas caem naturalmente, e esse Outono te toca, quando fechas os olhos e te entregas, numa metamorfose que não deixa morrer.

domingo, 23 de setembro de 2012

A Dança





Quero dançar despida de trapos, a mente aliviada de farrapos, seguir ao ritmo das ninfas, beber a sabedoria dos elfos, numa floresta onde só o silêncio me ouve.
Quero dançar ao som das ondas, no ritmo do vento que me leva em busca do azul, nesse universo índigo onde desaparecem as palavras e sinto a embriaguez da luz, que me veste de estrelas, e perfuma de maresia à luz da lua.
Olho-me na pedra de jade, e danço com os espíritos ondulantes, o bailado dos astros, que me levam para o essencial do mundo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Em busca da beleza





Procurei a beleza nos rostos maltratados,
Nos olhos marcados pela desesperança
De quem olha o ocaso como por acaso

Procurei a beleza na indiferença das gentes
Que contempla o extermínio da mente
De uma humanidade que morre de tudo

Procurei na espécie humana
Aquela beleza que
 apesar da banalização da tristeza,
da fome e da guerra,
vive numa humanidade encantada

Procurei essa, que vive no amor

 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sem Mudança










Sinto-me igual, sem a mudança latente dos tempos,  embebida da vã sabedoria dos homens que me provoca um orgasmo mental, e da fútil sensação de beleza falsa,  neste pedaço de mundo que não pedi.

Talvez sinta apenas aquela leve melancolia, justificada pelos fins de tarde,  apesar de cúmplice da minha existência.

Sinto-me igual a mim, menos céptica talvez, de tanto ver a metamorfose que faz nascer as borboletas.

Será talvez por não pedir mais pedaços de mundo,  que me acomodo na paz da minha essência,  e tento desse lugar, apagar o meu nome?

Quem sabe se dormir, no meu corpo sem idade...

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Basta-me olhar a lua








 

Pudesse eu sentir-te no meu peito recolhido

Nas noites que te bebi até a lua te acolher
Pudesse eu levar-te, nos ciclos das marés
Onde a algas tombam sem a luz da prata e eu te aguardo
Envelhecendo a lua de tanto olhar

Pudesse eu sentir-te, no meu corpo feito teu
Sentir-te no meu sangue, nascendo nas alvoradas
E sufocar-me em ti nesse amar além do tempo

Pudesse eu amar-te, morrendo em ti
Mas basta-me olhar a lua

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sorriso







Esse sorriso pintado é mais que pigmento em forma líquida
desenhado num quadro, onde a mistura de cores me toca,
insinuando o frio, o calor, a sombra, a luz
numa profundidade sentida muito para além dessa tela

Esse sorriso esculpido a golpes de cinzel, lavrado em pedra
soltado das lascas caídas na terra
É a tua criação, o retrato da liberdade
O sorriso de deus


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quero paz






Quero paz, aquela paz que ilumina os homens e os torna o primeiro sol do planeta
Aquela paz que faz de um povo as velas brancas do mundo
Aquela que apaga os ventos da ira
Que poliniza um mundo de sombras voláteis
E executa numa sinfonia a ode à liberdade

Quero essa paz que se veste da brancura dos lírios
E nas gotas cristalinas do orvalho, chora o amor e a liberdade


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Morro silenciosamente nas chamas




Morro um pouco nas chamas do fogo
Nessa ilha que do verde se vestiu de cinza
Morro lentamente nas lágrimas desse mar
Que na noite ouvia o monólogo das árvores  


Entranha-me na pele os sinais de luto
E o cheiro dessa noite de fogo
Me desperta
Nessa ilha sem cólera que me acolhe


Silenciosamente morro com essa ilha calcinada
Sob esse céu pintado de sangue



E entrego-me a essa maré vazia


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Divindade







E foi assim que por breves e eternos momentos
Despi a carapaça
E vesti o silêncio que me fez calar a mente
Tirei o véu do esquecimento,
Deixei o jogo
E subi ao trono da minha divindade

“Tu és Deus também”

E esculpi na pedra o teu rosto
Num templo
Que se eternizou no pó das épocas 


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mãe






 
Eu podia viver nas asas dos falcões

Viver o êxtase das aves solitárias

Rumo ao inevitável caminho do céu

Onde te encontraria, mãe



Eu podia viver o sol purpura entrando na noite

E sentir o brando silêncio trazido pela brisa

No sono da morte deliciosamente misteriosa

Onde te encantaste um dia



Podia ouvir os grilos entoando a melodia

Que me cantaste num outro tempo

E pedir ao vento que te devolva

Desse secreto e constante sono


Mas, vou viver a tua morte, mãe

E conquistar a tua paz sem chorar a noite



Podia ouvir os grilos entoando a melodia

Que me cantaste num outro tempo

E pedir ao vento que te devolva

Desse secreto e constante sono


Mas, vou viver a tua morte, mãe

E conquistar a tua paz sem chorar a noite

quarta-feira, 4 de julho de 2012

VIVI





Dancei ao ritmo da solidão, cantei ao som da nostalgia
Vivi nos abismos vertiginosos dos amores dos homens.
Desaprendi o que os livros ditavam
E percorri os caminhos de encontro à fórmula para a alquimia


Não sei se de todas as lições vividas aprendi a linguagem secreta da natureza,
A intimidade do homem.
Não sei se aprendi na luz e nas sombras
Ou se as vivi numa transição entre a verdade e a mentira.


Não sei se aprendi nos rituais da consciência o elixir da vida eterna
Ou se inventei a pedra filosofal
Que me fez compor na comunhão com os homens, o poema
Que fez cair lentamente a tarde