quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

É Natal



É Natal, e nós, deuses mergulhados numa teimosa amnésia

Só agora acendemos luzes nos templos negros

Como se o agora mergulhasse no eterno, num circulo sem vazio.

Mas, fomos feitos assim, com amor, para o amor

E sim, pode ser por toda a vida, por toda a morte

Por todos os Natais sem Natais.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Gaia

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/?fref=ts
Eu amo todas as coisas que sinto, sensações vindas de um tempo longínquo que nunca deixei de amar, sem mesmo saber. Algo que se mistura na terra e na pele, que me traz a nostalgia de uma antiga existência, que me abre o coração para os devas da floresta, para as sereias dos oceanos, que me faz procurar o canto das baleias.

Eu amo o espírito entranhado nas árvores, a linguagem dos ventos e das tempestades, a ternura da lua e o uivo dos lobos.

E nunca deixei de amar, sem mesmo saber.


Nunca deixei de viver, sem mesmo saber, tantas e tantas vidas em ti, Gaia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Silêncio



Porque o silêncio me envolve
Em palavras que não escuto
Em sons que me escondem de mim
Na nudez da verdade

Porque o silêncio me despe
Nas fronteiras do ruído da mente
Me estrangula no sufoco da voz
Me desnuda de mim

Porque eu sou
A nudez do silêncio


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A dança




Durante o sono das estrelas
Entoavas o eco do amor
Dançavas a música do mar
Acarinhavas o espírito da terra

E quando mergulhavas na embriaguez do silêncio
Da noite vadia, caída e fria
Ouvias ao longe a música dos índios
E dançavas a linguagem da selva

Dançavas, assim, sem condições
Como o bailado na noite das arpas
Como a música na noite dos pássaros

E Amavas, assim
Dançando


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Saudade



Quando desenhei a saudade em folhas brancas
E soltei-as no dia dos ventos gélidos do norte
pensei
seria talvez o fim do sentir a dor da ausência

Quando no horizonte desapareceram as folhas
Rascunhadas daquela saudade cravada nas lembranças
Senti a tua não existência
Daquela que seria a mais bela memória

Desprendi a saudade em folhas brancas
Deixei que as marés as levassem
E o meu coração se acomodasse
No fim do adeus



terça-feira, 16 de agosto de 2016

Renascer




Se nem os vulcões te deixaram sem verde,

nem as chuvas te afogaram no mar.

Se nem os ventos te levaram a luz

e as lágrimas apagaram a coragem


Vamos plantar o verde da ilha

Vamos renascer das cinzas o perfume da terra

E beber nas tuas fontes a esperança



terça-feira, 2 de agosto de 2016



És tu quem pinta o céu de luar

E me oferece o leito onde adormeço


Mergulhada em ti onde nasço



sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Canção



Cantava a canção de um qualquer país
E de todos os países
Mesmo com palavras nem sempre audíveis
Cantava
A canção de qualquer mundo perdido

Trazia a melodia fresca
Vinda de uma qualquer fonte angelical
Na canção presente em todas as almas
E tão sempre desconhecida

Ressoava sonolenta nas dores humanas

Cantava
Sugerindo deuses nos homens
Esquecido da maldosa ignorância
Abafando o ruído da dor


Cantava as lágrimas da alma 


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Um novo mundo





Sei que um dia existirá um novo mundo

Aquele onde a sabedoria dos índios renascerá

E a dança dos homens ao som do canto das baleias

Trará os templos da Atlântida


No novo mundo

as pérolas brilharão no olhar da humanidade

Em harmonia com a perfeição do cosmos

Tudo se iluminará ao ritmo perfeito das estrelas


Numa nova terra, com novos mares

Onde o bálsamo das flores desperta o coração dos homens

Queima-se a ignorância, o mal e o medo

Liberta-se o amor e tudo se integra

Na mais completa harmonia Universal


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/?fref=ts




Às vezes, quando aquela chuva vinda das terras do sem fim me humedece as entranhas como se de repente tudo ficasse sem cor, eu morro um pouco para a beleza, aquela beleza que sendo apenas minha, enfeita a terra de luz.


Mas, às vezes, quando renasce da lama a alma transformada em fénix, sim, quando da morte se vive a intensidade da vida, tudo, tudo se transforma em beleza e tudo vive as vidas do sem fim.


Nasce, ainda que adormecida, a compaixão.



quinta-feira, 17 de março de 2016

Saudade

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/?fref=ts

O vazio preenchido pela saudade

de quem procura na imensidão do céu a tua estrela.

Magoava-me a ferida dilacerada

do dia em que te perdi

nos mistérios da morte.


Mas hoje

quando a luz banhou de prata as ondas do mar

e no céu

uniram-se as mãos das plêiades

acabou-se a minha saudade vadia,

e eu vivi o teu renascer

no fulgor da Terra

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Carnaval

Imagem da Internet


Um dia chegaste trajado de Pierrot ao som de um samba melancólico. Trazias no peito a rosa brava e no coração o carnaval. Chegaste vestido de inocência, caminhando na praça com graça, a lágrima traçada no rosto.

Falaste-me dos carnavais do mundo, aqueles que te fizeram vestir camuflado de alegria, dentro de trajes de lantejoulas.

Um dia, num qualquer sambódromo do mundo o carnaval te levou. E eu trajei-me de Columbina.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Na minha aldeia

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/?fref=ts (Norte da Madeira)


Quando o ocaso descia na aldeia e a montanha se iluminava de mornos raios laranja, chamando os coelhos para fora das tocas, voltavam para casa os filhos da terra. Era o sol dos coelhos à hora das ave-marias cantadas na igreja.

As mulheres nas soleiras das portas, aqueciam seus corpos na hora do penteado das feiticeiras, esperando seus homens que rasgando caminho corriam para seus colos.

Caía o mais severo silêncio enquanto esmoreciam os últimos raios de sol e cada instante era festejado na eternidade do orgasmo.


Quando o frio respondia da montanha e os coelhos recolhiam às tocas, deixavam estes homens as suas mulheres, prenhas de tristeza e saudade e tudo se transformava em tempo até o próximo sol.