sábado, 30 de dezembro de 2017

E assim cai o tempo



E assim vai caindo o tempo sem que sinta na sua passagem as quimeras da vida que tanto coloriu os meus sonhos. E mais uma meia-noite saída do fantástico, em que tudo se torna cor, como se de repente o mundo adormecesse num sono inocente, e nós, humanos transformados em anjos temporários, brindamos à paz provisória. 





sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Não sei amar de outra forma

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/


Não sei amar de outra forma.
Assim, simples, entre o prazer e a dor, entre a paz e a guerra, eu amo apaixonadamente. Não sei sentir sem paixão, não sei amar sem beleza, não sei viver sem amor. Seriam túneis sem luzes, salões sem cores, vidas sem vida.
Assim, amo sem condições, em pleno deserto onde o nada nos transforma em tudo, onde a paixão nos eleva ao êxtase, onde tudo se unifica entre lágrimas e risos.
Não sei amar de outra forma, talvez não saiba te amar de tanto te amar




domingo, 29 de outubro de 2017

Alheamento



Por vezes vem essa necessidade de se alhear da terra, da vida, das mentiras e verdades.
Por vezes vem essa necessidade de mergulhar no nada, como se o nada fosse tudo e do tudo se fizesse nada, como se a vida e a morte fosse só uma e eu fosse um só com o Universo.
E eu sou, almas de várias existências, de longos e inúmeros carnavais, sou pó e carne, meretriz angelical, sou a encarnação da luz e das sombras no alheamento da dualidade.


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Noites



Despedi-me dessa noite branca

Onde tudo se movia numa dança erótica

De ondas azuis com reflexos de luz

Onde a noite nos uniu no sono e no sonho

Onde o amor nos eternizou para além da carne


Despedi-me assim, sem dor e sem lágrimas

Num sentir de tudo e de nada

No vazio selvagem da tua partida


Porque, sabia eu


Voltarias outra noite,

e outra...e outra

Trazendo de volta esse pedaço de mim

Entre tantas outras luas




sexta-feira, 30 de junho de 2017

SONHO

Fanal - Madeira
De repente do sonho nasceu a luz, aquela que me fez descer à terra e viver o meu renascer.
De repente, no primeiro suspiro da vida que me deixou viver, eu voltei, feliz que estava de sentir o teu calor, ou o sussurrar da floresta mesmo em dias sem sol, ou os teus devas mágicos cantando a paz, ou mesmo as gotas de cristal em dias de tempestade que me limpavam a alma da escuridão.

E eu despertava com o cheiro dos lírios no lento entardecer do sonho.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ao Espírito da Terra

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/?pnref=lhc




Ainda que nem sempre caminhe descalça
e não sinta o teu pulsar,
ainda que viva em ti de forma tão distraída
que não veja as tuas luas,
mesmo nas noites em que te fazes presente
de forma tão prateada.


Ainda que me sinta tão distante
quando a melancolia me invade
Mesmo assim,
nada te esconde de mim.


Basta a tua leve brisa
que me chega com cheiro de algas
ou o eco das tuas tempestades
com o perfume das chuvas do Norte,
ou mesmo a tua melodia
quando cantas nos trovões


Nada te esconde de mim
E eu desperto carinhosamente


Desperto para o teu amor




terça-feira, 9 de maio de 2017

Apetece-me amar



Hoje apetece-me amar

Talvez sentir amar mais do que falar

Apetece-me calar a razão fria

e entregar-me ao amor

Eternizar o orgasmo

mesmo no sono inconstante


E amar-te

mesmo no fim do cansaço

Hoje, agora, apetece-me amar

Mesmo depois do ontem

Mesmo sem o amanhã

Até que nasçam lírios no céu



terça-feira, 18 de abril de 2017

Seria o mar



Seria o canto das sereias entoando o teu tango, que me fez recolher em ti o meu medo de amar.

Seria o mar que trouxe o teu fado e me encantou no teu mundo



terça-feira, 4 de abril de 2017

Desencontros






Há uma sabedoria divina na solidão, onde me reencontro vezes sem conta, ainda que nos cruzamentos cultive a arte do desencontro.
Esta forma de amar que me fere as asas e me deixa postada em tudo o que é condição, como se um dia o silêncio falasse e eu te aceitasse mesmo assim, desencontrado de mim.
Mas, talvez se deixares o teu sorriso para mim...


domingo, 19 de março de 2017

Pai



Quero escrever sobre ti, pai, talvez sobre a saudade escondida, talvez sobre a resignação de apenas te recordar


Quero escrever sobre ti, pai, talvez sobre esta tristeza camuflada de querer esconder um remorso injustificado


Talvez escrever o que nunca escrevi, talvez chorar nas palavras,…não sei


Quero escrever para ti…talvez só para te dizer que vives em cada palavra que ainda escreverei sobre ti…

sábado, 18 de março de 2017

A tua amoreira hoje deu flor, Pai




Quando saboreávamos o gosto das amoras

Disseste que serias essa amoreira

Enraizada na terra com folhas no céu

Que daria flor no inverno

E rosas no verão



Sabias viver apesar da proximidade do fim

Vivias para mim, para as tardes na amoreira

E eu chorava silenciosamente a dor

A minha dor, a tua dor, a dor do fim



A tua amoreira hoje deu flor

E eu amo-te silenciosamente



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Silêncio





Há uma beleza inata nas palavras do silêncio,
como se de repente eu não precisasse de nada
se não desta brisa salgada que me enche o peito
e me faz esquecer que existem palavras

E este silêncio

que faz de mim um poeta vazio
Refúgio incondicional de tudo o que vivo
Que me leva à condição de ser
Sem saber aquilo que sou

Amo a beleza do silêncio
A ignorância do vazio



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Carnaval



Sambavam, genuinamente descalços, embrenhados na melancolia dos tambores ao ritmo orgásmico de uma dança despida de pudores. Mergulhavam no esquecimento do que eram, bebiam do sonho um dia castrado, e dançavam, uma dança quase agonizante, num misto de prazer e dor, de quem ama até ao vazio da morte.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Morte

Foto de https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography/?fref=ts



Um dia a morte chega,

silenciosa e calma como a noite

Celebrando a beleza da vida,

Aquela que devias viver


Deixaste o amor escondido

na futilidade da posse

Deixaste a vida perdida

nas sombras do medo


Deixaste a primavera partir

Sem que nela colhesses as flores.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Destino






Era só agora, e tudo acontecia agora, sem amanhã, sem destino profetizado pelas bruxas. Eram felizes assim, só conhecendo o hoje. Crianças de pés descalços e sol no olhar, sem grades nem medos, com a inocente coragem do amor ainda virgem.
Riam como se não houvesse destino, dançavam nas chuvas mornas e beijavam nas noites mais belas do mundo, sem dor e sem saudade.
Eram crianças sem destino, de pés descalços e sol no olhar.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Fuga



Não posso fugir de mim, ainda que ame com medo de amar e ressuscite o meu fantasma moribundo. Liberto a fenix de penas douradas e desenho palavras de vento, sempre que pinto o teu rosto na areia.

Um dia, deixarei a minha nudez reflectida na beira do porto, e vestir-me-ei de mar, apenas e só de mar, para poder te amar.