Sentada no cais da praia, as ondas murmuram-me vozes de um mundo sem começo nem fim, de uma simples e ingénua existência. Murmuram-me vozes da alma de um poeta, que escreve na espuma branca palavras brilhantes de cristais salgados.
Sinto palavras vaguearem nas cristas das ondas, palavras que de tão simples, difíceis se tornam, palavras que procuram a expressão da sabedoria, que nem aquele mar vestido de mistério e beleza consegue traduzir.
Sentada no cais da praia, sinto essa alma do poeta, aquele que fala da vida para a vida, aquele que vê para além do mar, que entrega ao vento palavras simples, que brilhantes de sal procuram a beleza de uma alma singela, num mundo de intensas maresias.
E é nesse mar profundo, que as ondas levam os desabafos daquele que um dia foi trovador, imortalizado na brisa salgada, perpetuado na simplicidade das palavras, que de tão singelas desmembram os verbos feitos em castelos de areia.