quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O meu mar


Na minha alma batem as ondas como se nesse vaivém de sal eu conseguisse ver-me ainda criança, entre os salgueiros, saboreando cada gota dessa maresia.

Na minha ilha com cheiro de algas, procuro-me no infinitamente azul, no ondular das tuas marés. Procuro-me em ti, mar, e em mim, terra, onde sempre acabo me encontrando, nessa simbiose perfumada de sal e de sol.

Sei que viverei na tua espuma macia. Consola-me a minha morte porque seremos apenas um, a quebrar na areia da praia de um entardecer púrpura.

E eu respirarei mais uma vez.


terça-feira, 11 de maio de 2021

Espera


Não vás ainda, fica mais um pouco,
só até a lua chegar ao nosso deserto.
Fala-me mais um pouco das cores da tua luz,
dessa terra onde acaba o ódio e começa o amor,
onde o mar mantém as marés,
para que consigas alcançar o arco-íris.

Conta-me a tua história,
 para que eu veja com a cegueira física a beleza
que só um coração consegue ver.

Traz-me o silêncio do deserto,
o céu chovendo as tuas estrelas,
o vento cantando a tua música. 

Fica, só mais um pouco,
Para que em mim viva o teu aroma,
e eu perca o medo da tua morte.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Adeus

Segui o teu rio,

aquele que levou para longe os murmúrios da tua voz,

e os sussurros das aves que me diziam

que seria o último adeus do teu sorriso.


Caiu em mim o peso da despedida,

como se de repente entrasse no último dia do mundo,

no último dia do tempo,

e a vida perdesse as cores,

numa mescla cinza de tarde de inverno.


Vi a tua sombra diluída

Naquela água onde nada sobrou

a não ser palavras sem ressonância

Onde gastámos as lágrimas

Sem que eu acreditasse

Que um rio não volta


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Silêncios



Era o silêncio das aves noturnas,
onde a música dos grilos te enchiam de paz,
e a tua alma vagueava entre dimensões de luz.

Seria a floresta encantada,
aquela que te trazias para dentro de ti,
como se o mundo deixasse de ser mundo e tu,
eras apenas tu, despido e ausente.

Era assim o teu mundo fora do mundo.
Florestas imensas de silêncio,
refúgio vazio de gentes,
e esse desejo doido de mergulhar na noite selvagem e pura.

Seria o silêncio, onde os teus gritos se desvanecem,
e sob a lua azul calas a voz,
em eternos momentos de essência.