quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Deixem-me envelhecer


 Deixem-me envelhecer em paz.

Com rugas e sinais que contam uma vida que falam de mim.

Deixem vir os sinais do tempo, deixem-me passar pela sabedoria dos grandes amores mortos, pelo fim da juventude ingénua e pela paz de quem conhece a alma.

 Deixem ficar a alma para além da beleza do corpo. Deixem-me refletir nos vincos do rosto, a paixão madura de quem apenas vive para amar cada novo sopro de vida. 

Deixem - me envelhecer e amar, e viver e morrer, prenha de conteúdo. 




segunda-feira, 4 de julho de 2022

O meu amor por ti


 


O meu amor por ti é contado nas estrelas,

nas entrelinhas da lua

é aquele que fala na dor e nas lágrimas

que rompe caminho nas tempestades

que sorri quando te sente

que grita num som ausente

O meu amor por ti

É aquele que o universo recebe

Que te devolve a luz e a sombra

Que te envolve no fogo

E te entrega ao mar

Naquele mar onde juntei as noites

E onde para ti criei o sol  


quarta-feira, 13 de abril de 2022

BEIJO


Será talvez a miragem mais ténue de quem não esgota a memória daquele primeiro beijo, debaixo da amoreira, de onde caíam gotas de sumo e se misturavam na nossa pele.

Continuam lá, as nossas sombras invertidas no lago, ainda com a velha amoreira a pingar amor, e eu a mergulhar naquele que foi o mais ingénuo e genuíno primeiro beijo, onde só voltando a esse lugar, consigo encontrar em mim a pureza, a beleza e aquela simplicidade esquecida.

Será talvez a miragem daquilo que ainda hoje procuro, sem que se esfume no tempo a esperança de encontrar aquela tarde, com sabor a amoras.






Natal

Eram dias de luz, mais luz que nos outros dias, como se alguém lá do alto mostrasse o amor, e nós, crianças, apenas acreditávamos. Acreditávamos que era assim a felicidade, simples e cheia de cor, bela e natural. 

Depois vinha a noite misteriosa, a mais bela e mágica da minha infância, com os presentes mais belos do mundo, vindos de um qualquer paraíso perdido no meio do Universo.

Ainda hoje, na noite de Natal, dou por mim em busca da terra dos Anjos, como se morasse ainda em mim aquela criança que acreditava no poder da magia.

Sinto o amor de quem me levava pela mão para a mais terna noite da infância.

E escrevo assim, sem escrever a saudade, porque o amor continua vivo.