segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Aquele Natal





Volta aquela nostalgia do Natal em família onde a beleza estava nos sonhos e na imaginação sem fronteiras, sem pressas nem ambições, como se o amor se eternizasse e nada mais importasse e de nada mais precisasses para tocar a felicidade.
Era assim aquele Natal, com aromas suaves e brilho nos olhares, crianças que traziam o divino, transbordando abundância de tudo, mesmo sem o nada de agora.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Mulheres



Amam como quem ama no adeus e choram nos orvalhos da madruga. Deusas ressuscitadas do cansaço, do desespero, da razão. Da beleza selvagem, da paixão dolorosa. Dos filhos paridos no medo do mundo, Afrodites da terra e do mar onde dançam em obscuros desejos.
Por vós tocam os sinos nos campanários, elevam-se as vozes dos templos, ecoam o pranto dos poetas.
Por vós a vida pulsa.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Para ti, que estás para além do céu







E o meu coração encontra-te, na serenidade do mar ou na fúria do vulcão, na brisa morna com cheiro a maresia ou no gosto das algas.

O meu coração encontra-te no último suspiro da terra, no último raio da luz do sol, na luz cândida das fases lunares. E tudo fica mais belo, como se descesse a vibração do céu e eu encontrasse o caminho de casa.

Mas quando te perco, é porque os meus olhos não estão prontos para te ver, e essa será a noite escura da alma, ainda que continue a amar-te.


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

AMOR







Quando a minha alma acorda do sono nocturno, e tudo não passou de sombras ilusórias, por vezes belas, por vezes menos belas, mas nunca reais.

Seria o fim do deslumbramento do ego, onde tudo deveria ser segundo as suas ordens, como se essa fosse a verdadeira sabedoria.

É o fim do sono da alma, é o despertar do amor, aquele amor que só as crianças conhecem, que só os animais sentem, que todo e qualquer Deus é.

Assim acordou a minha alma, por tempo indeterminado.




segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Pai





Pai, o tempo nos aproxima
No sonho que me falas sem voz,
E não falarei das palavras sem som
Sentirei apenas a tua luz na noite

E esse acetinado crepúsculo onde te vejo sorrir
Vindo de um eterno tempo que um dia nos unirá
Mistura-te na memória de uma vida
Onde agora a luz te molda a sombra

E semeio rosas no caminho que te leva
Onde aguardo o retorno das aves que te cantam.
Feliz aniversário

Amo-te

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Noite da alma





Na noite escura não reconheci o caminho
Como se a cegueira da visão me bloqueasse os sentidos
E as emoções não reconhecessem as cores.
Fechei o fluxo do amor e caminhei na berma do lago
Acompanhada da sombra nas águas vestidas de prata.

Reconheci o meu nome assim
vulnerável
Seria a ferida na minha essência
na prisão da minha liberdade.

Talvez se criar uma ponte
 que me leve à melodia longínqua da próxima primavera,
Eu consiga encontrar-me em ti.
E acenda uma luz na noite da alma.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Eu comigo






Foste tu a luz, naquela que seria a última caminhada pelo mundo. Como se de repente, toda esta parafernália de emoções se esvoaçasse no universo e se fizesse a bonança depois da tempestade e se invadisse de calma a tormenta.
Despi-me de trapos e mágoas, juntei cacos e migalhas, caminhei passo a passo sentindo a virgindade da terra e a nudez do tempo. Finalmente eu comigo.
Não fosse essa luz, com a particularidade de ser a tua, e seria eu sem mim, mergulhada na imensidão de nada.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Dia mundial da poesia



E faz-se as palavras ao longo do poema

Quando o poeta tenta colorir de paz

As mais negras formas da vida

Trazendo a luz nas sombras das linhas


É o poema vestido de poesia

Que me envolve na homenagem à vida

Ainda que não raras vezes vestida de luto

Me entrego à beleza dessa harmonia


O poema é aqui, na minha alma

Triste ou alegre em palavras incertas

Na busca do amor feito poesia

Na busca da vida esculpida em palavras





sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Carta de amor




Eram feitos de música, os teus passos, quando chegavas sem hora marcada, sempre nas marés altas, onde a lua cheia iluminava calmamente o teu caminho até mim.

E eu preparava o meu coração, a minha pele com banho de jasmim, o meu corpo sereno e desperto, te aguardando sem pensar em despedidas. Mas sim, essa foi a última noite que se ouviu a melodia da harpa no meio da praia, a última noite que estiveste em mim mergulhado, como se o amanhã não fosse acontecer.

E agora, sempre que batem as ondas no ilhéu anunciando a vinda da maré, eu caminho na estrada de prata até sentir a areia molhada.  E sim, espero debaixo da estrela com o teu nome, porque mesmo não te vendo com os meus olhos marejados de água, consigo sentir o teu cheiro a algas, como se o mar te guardasse só para mim.

Sim, o mar guarda-te só para mim, porque só eu consigo ouvir-te na melodia das marés, só eu consigo ver-te na estrela polar, só eu sinto a tua vida tornando a morte numa miragem.


Quando voltarem a subir as marés lá estarei, meu amor, levarei a minha harpa e tocarei para as estrelas a tua música até que o mar te desperte.